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A pior parte do conhecimento


Será que existe a pior parte do conhecimento? No meu caso a resposta é sim. Sou professora com 17 anos de experiência em sala de aula. Lidando diariamente com alunos do fundamental 1. Em sala todos os dias são diferentes, não existe rotina. Fazemos nosso planejamento, pesquisamos atividades diferenciadas e quem nos dá o rumo são os alunos. A experiência vai dando segurança e jogo de cintura para lidarmos com as mais variadas situações.

Professor é um eterno aprendiz, está sempre em busca de coisas que acrescentem na sua prática pedagógica. Fiz duas especializações com objetivos claros: auxiliar meu aluno em sala de aula. Minha pós-graduação foi voltada para as dificuldades de aprendizagem e optei pela Psicopedagogia Clínica. Com a inserção das crianças com necessidades educativas especiais nas escolas fiz especialização também em Educação Especial.

Mas tantas leituras me fizeram ficar frustrada. Pois, apesar de saber o que meu aluno tem, não posso ajudá-lo. Existem casos que o conhecimento ajuda, quando este depende única e exclusivamente de mim e do aluno. Porém, quando o caso é um pouco mais complexo, somente o professor não dá conta da dificuldade e necessita de outros profissionais e, principalmente, dos pais.

Neste momento as frustrações começam, pois na grande maioria das vezes é na família que a coisa não acontece. Pais negligentes que não se dão conta do sofrimento do filho, apesar dos bilhetes na agenda, das notas abaixo da média, da apatia do filho, desorganização dos cadernos, nas várias chamadas na escola e por aí vai. Nada faz com que esses pais acordem para o problema.

E no dia-a-dia em sala percebemos essa lacuna naquele aluno que passa a manhã apontando lápis, rabiscos na carteira, bolinhas de papel e absolutamente nada daquilo que deveria fazer.

Meu conhecimento diz que este aluno apresenta características de TDAH. Hora de fazer alguma coisa: colocá-lo na primeira carteira, dar mais atenção em sala, chamar sua atenção para que seus pensamentos não divaguem e dar explicações mais individualizadas.

Acontece que isto é pouco. Parto para o segundo passo: entrar em contato com os pais e relatar o que acontece. Falo da minha angústia e solicito que procurem um médico para avaliar a situação, objetivando sempre o aluno.

Começam minhas frustrações. Na grande maioria das vezes os pais não buscam ajuda. Milhões de desculpas vão surgindo no cabedal familiar: falta de tempo, dinheiro, o “filho sempre foi assim”, quando crescer passa, ele não tem nada, é preguiça, tomar remédio nem pensar e por aí vai.

Em sala nada avança. Aluno cada vez pior, mais alheio a tudo que se passa. Defasagem total de conhecimentos, irresponsabilidade, discriminado pelos colegas, apático, notas cada vez mais baixas. Como auxiliar esta criança? Sei do que ele precisa, mas meu limite de atuação esbarra na não-aceitação dos pais em fazer algo.

Tenho o conhecimento, sei aonde aquele transtorno vai levar meu aluno, mas fico de mãos atadas, pois os pais, que são os responsáveis legais nada fazem.

Entenderam a minha situação? É nessas horas que penso: Tanto conhecimento pra quê?



Professora Leila Bambino

leilabam@terra.com.br

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